A fonte sonora exclusiva de todo este disco é a própria voz de Maja Ratkje, membro do grupo feminino anarquista norueguês Spunk. Captada nos mais variados locais (o mausuléu de Emmanuel Vugeland, um telhado, duas caves, um elevador, diversos estúdios e uma casa rolante) e pelos mais distintos meios (gravador de fita, disco rígido, dictafone, minidisk e samplers), são múltiplas as formas e expressões que toma, sempre no domínio da electroacústica. Nesta música a que cabe por inteiro o epíteto de “radical” há uma componente de poesia sonora, outra dos vocalismos típicos da improvisação (isto se considerarmos o que Phil Minton faz como um padrão), outra ainda do canto da música contemporânea, sendo ainda discerníveis outras referências neste tipo de tratamentos, como o punk e a “noise music”. A produção foi partilhada com o grupo electrónico Jazzkammer e de todos estes ingredientes resulta um obra de grande qualidade mas que não é de fácil audição – a última peça, por exemplo («Insomnia»), é a versão áudio das deformações figurativas de Francis Bacon e um monumento da estética do ruído. Nunca se tinha ido tão longe no culto do “belo horrível”…
Rui Eduardo Paes